Cotoveladas
Tradução: Felipe Chaves Gonçalves Pinto
Revisão e cotejo: Luiz Fernando dos Santos Velloso Blois
HTML: Felipe Chaves Gonçalves Pinto
Texto original: "Hijideppô". In: Moroshinpô, vol. 580, Wakayama, 1906. Disponível em: Aozorabunko. Acesso em: 24/09/2024.
Este texto está licenciado por: Licença Creative Commons Atribuição-CompartilhaIgual 4.0 Internacional (CC BY-SA 4.0).
Sumário
Algo necessário
Nos últimos anos as questões das mulheres, as ditas questões das senhorasXY e das jovens estudantes, passaram repentinamente a ser discutidas pelos ditos intelectuais em textos e debates como se fossem um enigma difícil de se resolver, mas muitos destes intelectuais não passam de homens egoístas que, percebendo o ânimo de nós, senhoras, estão começando a despertar para a realidade e ficam tão atordoados que tagarelam tolices que só dizem respeito a eles mesmo, e, então, é seguro dizer que quase nenhum deles vale a pena ser ouvido.
A despeito disso, ainda que esteja sendo um tanto radical em minhas palavras, agora eu desejo algo que é extremamente necessário para as senhoras de hoje.
Trata-se de rígidas cotoveladasXY.
Por que isso acontece?!
Mas porque precisamos de cotoveladas?
Antes de explicar isso, gostaria de perguntar às senhoras se estão ou não absolutamente seguras e satisfeitas com suas situações.
Observando daqui, do meu ponto de vista, descobri o fato de que, apesar do costume de longa data em demonstrarem-se pacíficas e tranquilas na superfície, todas as mulheres, com exceção de pouquíssimas, têm algum tipo de angústia no peito e estão cheias de receio. Por que isso acontece!?
A castidade dos homens
Os homens têm de ser castos.
Embora haja muitas coisas incômodas no mundo, creio que nada seja tão incômodo quanto os homens. Sempre que ouço dos homens (exceto aqueles verdadeiramente puros, como estrelas do céu ao amanhecer) discursos sobre a castidade das senhoras, acho extremamente ridículo e não consigo conter o riso. Antes de dar ouvidos a tais discursos, não posso deixar de bradar “mostre-me primeiro vossas mãos”. O descaramento de tantos preponderantes homens na sociedade, que ousam falar sem pudor algum sobre a castidade das senhoras, é algo que simplesmente me deixa perplexa.
Isso, afinal, é uma forma extrema de considerar as mulheres como escravas e de insultá-las.
Eu realmente acho estranho que as nossas senhoras não se levantem e clamem pela castidade dos homens.
Que tristeza!
É por isso que eu desprezo profundamente, como se fossem serpentes e escorpiões, aquelas palavras “boa esposa e sábia mãe” que saem da boca dos homens corrompidos de hoje, e sempre as recebo com o devido escárnio. Que direito têm esses homens, podres e decadentes, de impor castidade? Antes de exigirem castidade das senhoras e pregarem sobre “boas esposas e sábias mães”, por que não conservam eles mesmos a própria castidade e se tornam “bons pais e bons maridos”? Ainda que haja muitas contradições no mundo, dificilmente haverá uma tão grande quanto esta.
No entanto, que tristeza!, por que, na atual organização social, as senhoras ainda têm que aguentar essa enorme contradição e humilhação, e invariavelmente se tornarem escravas destes homens? Isso se deve, em última análise, à grande questão fundamental da insegurança da subsistência.
Tenham coragem!
A solução para esse problema fundamental deve, sem dúvida, encontrar-se no socialismo, contudo, nós, senhoras, também devemos lutar contra esse grupo de homens egoístas e arbitrários.
Tenham coragem, senhoras!, despertem-se!
Comparado à luta dos trabalhadores contra os capitalistas para romper as barreiras de classe, a demanda das senhoras por igualdade e liberdade em relação a esse grupo de homens não pode ser facilmente alcançada apenas pela vontade individual, sem levantar a voz ou derramar sangue.
Rejeitem os homens violentos, rejeitem os homens sem castidade, rejeitem os homens decadentes, e ofereçam-lhes a reflexão.
Melhor que encouraçados de um milhão de toneladas, superior à morteiros de mais de dois metros: não há, digníssimas senhoras, melhor arma para rejeitarmos os homens do que cotoveladas!
Uma saraivada de cotoveladas!
Minhas senhoras, unam-se para suplantar o domínio deste grupo de homens!, especialmente vocês, senhoras solteiras!, não se descuidem e estejam sempre preparadas para a batalha com suas poderosas cotoveladas a postos; que felicidade pode existir em um casamento sem segurança?, que prazer pode haver em viver com homens sem castidade?, eu lamento constantemente essa dolorosa realidade em que nossas senhoras não saibam usar essa poderosa e máxima arma para proteger seus direitos, mas a utilizem somente para servir de travesseiro a homens decadentes e abusivos.
Levantam-se, senhoras!
Se as senhoras que se ergueram também se unirem para disparar suas cotoveladas em saraivadas, os homens não tardarão a se render, prostrando-se aos seus pés e implorando, em lágrimas, por misericórdia.
Não se apressem em se casar, não se contentem com casamentos de negócios, e dediquem-se ao seu próprio aprimoramento.
Somente assim você poderá criar a família ideal.
Senhoras, tenham coragem!, lustrem suas cotoveladas!