O caminho da nova Mulher
Tradução: Jessica Maki Kimura
Cotejo e revisão: Felipe Chaves Gonçalves Pinto
HTML: Felipe Chaves Gonçalves Pinto
Texto original: "Atarashiki on'na no michi". In: Seitô, vol. 3, no. 1, Tóquio, 1913. Disponível em: Aozorabunko. Acesso em: 18/10/2024.
Este texto está licenciado por: Licença Creative Commons Atribuição-CompartilhaIgual 4.0 Internacional (CC BY-SA 4.0).
A nova Mulher não deve buscar incessantemente pelos passos repetidas vezes calcados pelas Mulheres até hoje. Para uma nova Mulher há o caminho da nova Mulher. A nova Mulher, ao invés de caminhar rumo ao beco sem saída para onde muitas pessoas foram, seguirá em frente como vanguarda.
O novo caminho é um percurso inexplorado por pessoas percorrendo o antigo, ou mesmo por aquelas que reiteradamente o percorreram. Além disso, para as vanguardistas que intentam percorrê-lo, também é novo.
Do novo caminho não se sabe o percurso de onde se parte à onde se chega. Consequentemente, existe o perigo e o medo que acompanham o desconhecido.
À vanguardista percorrendo o caminho ainda inexplorado cabe prevalecer, ao podar os espinhos de rosas selvagens do caminho que devem cruzar. Deve partir uma enorme rocha, subir uma montanha íngreme e vagar, errante. Ao ser picada por um inseto venenoso, superando o pico da apetência e sede, ter subido a um penhasco, deve se segurar às raízes do mato atravessando o vale. Dessa forma, deverá conter as lágrimas de sofrimento frente aos gritos e preces de toda agonia.
As veredas desconhecidas e não cultivadas, em silêncio eterno, longa e infinitamente, permanecem. Porém uma vanguardista de forma alguma deveria viver para sempre. Ao lutar com a agonia e sucumbir com ela, não poderia seguir para além dali. Desse modo, uma seguidora reconhecendo a força da vanguardista deverá caminhar pelos novos passos. Assim glorificará a vanguarda pela primeira vez.
Mas um caminho que é novo para a vanguardista, ou as pegadas deixadas por ela, é novo apenas para quem o desbravou. Para as seguidoras, é um caminho velho e sem significado.
Assim, a vanguardista que toma o lugar da vanguardista caída viverá na tristeza e seguirá em frente, cultivando o seu próprio caminho.
O significado de “novo” só deve ser reservado a um pequeno número de líderes. É uma palavra que deve ser atribuída somente àquelas que conheceram a si verdadeiramente ao viver e morrer em lamento, acreditando em si, e seguir cultivando seu próprio caminho. É uma palavra que não deveria ser admitida às seguidoras levianas de forma alguma.
Uma vanguardista possui, primeiramente, uma resoluta confiança. Em seguida, força. E também coragem. Tem responsabilidade sobre sua própria vida. De todas as formas e em qualquer circunstância não aceita intermédio de terceiros em seu trabalho. Além disso, não se coloca na mesma posição de suas seguidoras. Uma seguidora não se qualifica como crítica de uma líder. Não tem sequer direito. Uma seguidora apenas, sentindo gratidão à sua líder, segue seus passos, não havendo outro caminho. Elas não sabem como avançar sozinhas. Elas somente conseguem caminhar e seguir os passos da líder.
Uma vanguardista, em princípio e antes de tudo, requer enriquecimento interno. Sendo assim, deve se firmar com plena força e coragem, além de uma confiança inabalável e responsabilidade por si mesma.
Enquanto a vanguardista avança seu trabalho precursor, não existe conforto mundano. Está sozinha do início ao fim. É sofrimento em totalidade. É angustiante. É inquietante. Por vezes, o desespero profundo também aparece. A única coisa que lhes sai da boca é o grito em oração fervorosa por si. Portanto, aquelas que buscam felicidade, conforto e simpatia não podem ser líderes. A pessoa que deve liderar deve ser uma pessoa forte, que viva de acordo com sua firmeza.
O percurso de uma Nova Mulher como vanguarda não é, afinal, mais do que uma série de excruciantes esforços.
(Seitô, vol. 3, no. 39, primeiro número de janeiro de 1913)