Mulheres comuns

Hayashi Fumiko

Tradução: Júlia Miranda de Assis

Revisão e cotejo: Felipe Chaves Gonçalves Pinto

HTML: Felipe Chaves Gonçalves Pinto

Texto original: "Heibon na on'na". In: Hayashi Fumiko senshû, Tóquio: Kaizôsha, 1937. Disponível em: Aozorabunko. Acesso em: 26/10/2024.

Este texto está licenciado por: Licença Creative Commons Atribuição-CompartilhaIgual 4.0 Internacional (CC BY-SA 4.0).

Durante uma conversa entre duas mulheres, que traziam consigo seus filhos:

– Ora, há quanto tempo! Como vai sua família? E o menor, já cresceu tanto assim?

– Pois ele já fez oito anos, agora está no primeiro ano do fundamental!

– O tempo voa mesmo. Meu filho já está no quarto ano do fundamental.

Antigamente, se tivesse ouvido esse tipo de história ao passar na rua, talvez tivesse me irritado com a limitação dos assuntos discutidos entre as mulheres. Afinal, é trivial que crianças frequentem a escola primária aos oito anos. Entretanto, hoje em dia, ao me deparar com conversas como essa, já não fico mais irritada. Sinto um calor no coração, como um aconchegante banho de sol, pois passei a acreditar que ser feminina é algo bom. Ano após ano, fatalmente absorvo a sujeira do dia a dia. Mas quando relembro aquilo que foi sujo em sua pureza, e consigo sentir calma ou até mesmo me divertir em conversas como a anterior, percebo que as raízes do povo, as nossas raízes, estão mesmo nas coisas comuns da vida na cidade.

Recentemente, li um artigo que tratava de uma discussão entre duas ou três mulheres bem instruídas. Para mim, a conversa era como um repelente de mosquitos. Uma das mulheres dizia que se incomodava tanto com a preparação do café da manhã e do jantar que tentou se abastecer apenas de bentô, mas acabou desistindo porque não continham calorias suficientes. Enquanto isso, outra dizia que estava vivendo separada de seu marido para escrever romances, e a terceira argumentava que confeccionar as tabi e lavar roupas era um trabalho árduo e entediante, como uma vida inteira de estudos… Falavam como se estivessem em uma conversa casual, mas por serem essas mulheres com conhecimento, senti calafrios.

Acredito que seja uma verdadeira catástrofe para os homens que se casam com mulheres assim. Elas veem atividades como cortar cenouras e rabanetes como passatempos, e por isso acabam fazendo, mas o que deveríamos esperar de mulheres tão brutas?

Talvez cada pessoa seja de um jeito, mas eu preparo as refeições da minha família, cuido da limpeza e da lavagem das roupas, e não acho nem um pouco incômodo. Realmente, também não vejo como diversão ou passatempo, mas não acredito que esquecer da cozinha ou das roupas tenha algum tipo de mérito. Antes de sair, sempre deixo preparada a comida da família, e então posso ir tranquila. Também costuro as tabi, um par de cada vez, enquanto me banho de sol, pois assim posso sonhar acordada de forma saudável. Apesar de não achar particularmente divertido, ainda creio ser melhor que sentar-me entediada à mesa. A vida das mulheres já foi discutida usando diversas palavras complexas e resumindo: é incômoda por conta do que precisamos fazer. E é por isso que, em qualquer lugar do mundo, haverá uma ou duas mulheres tão desgostosas que fariam bem em andar por aí de bigode.

Eu costumava sentir pena daquelas mulheres comuns, espalhadas pela cidade, com seus quatro, cinco filhos, protegendo-os incansavelmente. Agora, acredito que sejam mais felizes do que eu imaginava. Não fazem nada além de reclamar sobre como seus filhos chegam em casa sujos e de lavar roupa dia e noite, 365 dias por ano, mas já não vejo problema nisso. Se tirarmos a roupa suja e os filhos dessas mulheres, o que sobrará? Escutei uma mulher de renome dizer que, antes de mandar seu filho à escola, primeiro treinaria suas habilidades sociais. Mas o que seria a “habilidade social” de uma criança? ― Embora este seja um assunto diferente, sempre sinto calafrios quando pego livros e revistas infantis, e me pergunto se é possível fazer algo em relação àquelas revistas pegajosas e seus brindes. Fico pensando que seria bom se pudéssemos fazer algo como a coleção de livros infantis da Iwanami por apenas dez centavos. Eu chamo a capa dos livros didáticos da escola primária de “capa de presídio”, pois parece que foi confeccionado por um oficial do governo em serviço. Capas vibrantes, letras vibrantes; papel agradável ao toque, ilustrações revigorantes… Os livros didáticos vêm esquecendo tudo isso, e é por isso gostaria que as mães pudessem se envolver na confecção desses materiais.

Estou prestes a chegar naquela fase em que começo a querer ter filhos. Acho que gostaria de ter uns dois ou três. Quando vejo mães trabalhando enquanto carregam suas crianças nas costas, me sinto orgulhosa das mulheres japonesas. Também penso que alguns movimentos sociais femininos começam a partir do momento em que uma mulher tem filhos. Mães são pessoas calorosas, fortes e sensíveis. Não fazem nada que possa levar escuridão à vida dos outros. Se viver separada do marido, comprar bentô nas lojas ou levar a roupa suja para uma lavanderia tornar o trabalho feminino mais fácil de manejar, então vou imitar tudo.

Por que será que, dentre as mulheres bem instruídas de hoje em dia, existem tantas pessoas superficiais cujo discurso não alcança as mães e filhas comuns da cidade? Chega a ser engraçado como interpretam “beleza” e “gentileza” de forma tão errônea e dizem coisas tão imprudentes.

Aquele que partir em uma jornada
Deverá levar quem ama ao seu lado
Pois o estranho que ri alegremente
Logo perderá o interesse no viajante

Eu realmente gosto deste poema de Eichendorff. Tudo seria mais divertido se as mulheres fossem assim, tão gentis. “Ser gentil” não significa querer ser mimada por homens. E essas mulheres, ditas intelectuais, vazias e sem nada para chamar de seu, se incomodam com uma vida comum. É por isso que as odeio.

Notas